Depois da Fonte – Maíra das Neves e Pedro Victor Brandão, 2014
Apresentado na exposição Depois da Fonte (Portas Vilaseca Galeria), durante a feira ArtRio 2014.
Depois da Fonte é a proposta de implementação, no Rio de Janeiro, do modelo de sistema autossuficiente com escultura financeira de Maíra das Neves e Pedro Victor Brandão. Desde 2013, eles têm desenvolvido trabalhos em parceria, nos campos de estudos de espaço, economia radical e experimentos sociais.
Depois da Fonte propõe a produção de recursos naturais e financeiros para uso comunitário, a fim de apoiar o desenvolvimento de pesquisas artísticas e científicas locais. Este modelo de sistema requer um terreno público ou privado para a criação de um espaço comum, onde serão instalados equipamentos para a mineração de moedas virtuais, a fim de gerar um fundo comunitário.
Na ArtRio 2014, os artistas apresentam algumas possibilidades de implementação deste modelo em terrenos do Rio de Janeiro que são considerados “ruínas” pelo poder público. Essas “ruínas” são terrenos demolidos e sem uso que mantém apenas a fachada histórica. As prospecções dos artistas aparecem como ficções em fotopinturas e também no exemplar de ponto de mineração virtual – o computador montado pelos artistas – conectado em uma rede com algoritmos em funcionamento.
O Bitcoin é uma moeda corrente baseada em computação distribuída. Ela é descentralizada, digital e global, criada e mantida sem controle de nenhum banco ou Estado. Bitcoins podem ser “minerados” pelos próprios usuários da rede e trocados pela Internet.
Depois da Fonte aponta para um futuro possível. Maíra das Neves e Pedro Victor Brandão já implementaram este modelo na Alemanha como the þit (https://thebpit.org) entre os meses de abril e agosto deste ano, com resultados surpreendentes. Algumas fotopinturas de the þit também estão na ArtRio 2014.
Depois da Fonte propõe uma nova nascente para o jorro de riquezas. Propõe também outro modo de administração de recursos produzidos coletivamente. Depois da Fonte borra as fronteiras entre público e privado, e põe em prática modos de produção e financiamento colaborativos, não hierárquicos e não especulativos. Depois da Fonte não represa, e sim distribui.
Os planos de desenvolvimento urbano atuais, combinados com alta especulação imobiliária, comprometem o direito à cidade e a construção de espaços comuns. O trabalho de mediação dos artistas entre público, trabalho e espaço oferece um contraponto a tais planos. Depois da Fonte requalifica a função da arte.
Aqui, os visitantes têm a oportunidade de investir no projeto ainda “na planta” através da compra das obras em exposição. Podem ainda exercitar os potenciais democráticos de uma economia em rede pois além das tradicionais moedas fiduciárias, Bitcoins e outras cripto-moedas serão aceitos pela Portas Vilaseca Galeria. Para a implementação de Depois da Fonte no Rio de Janeiro, os artistas buscam também proprietários interessados em experimentar diferentes acordos para ativação de lotes e prédios ociosos.
Quando se abrirem as portas de uma ruína, Maíra das Neves e Pedro Victor Brandão poderão implementar o modelo já experimentado na Alemanha e construir outras seis minas de cripto-moedas, a fim de iniciar um fundo local para desenvolvimento de atividades comunitárias no lote, de acordo com desejos e habilidades dos envolvidos. Como mostram as fotopinturas, atividades variadas podem surgir, tais como hortas comunitárias, parquinhos, criação de abelhas urbanas, e principalmente convivência e trabalho coletivo. Para isso, os artistas já estão ativando parceiros locais e internacionais, tais como Agência Transitiva (Rio de Janeiro), Wasteland Twinning Network (Alemanha e Reino Unido) e Zentrum für Kunst und Urbanistik (Alemanha).