Circuito Futurístico e Especulativo do Desrespeito da Herança Africana, do Esquecimento Urbano e do Apodrecimento da Sociedade (2016)
O Circuito Especulativo e Futurístico do Desrespeito da Herança Africana, do Esquecimento Urbano e do Apodrecimento da Sociedade foi uma ação e série de seis imagens-síntese co-criadas por Laura Burocco & Pedro Victor Brandão; com a participação de Roberto Gomes Santos, Antonio Machado, Claudio Honorato e convidados; com registros de Daniel Santos, Lucas Parentes e Giulia Majolino; e apoio do Instituto dos Arquitetos do Brasil.
O Rio de Janeiro, em particular o perímetro do Porto do Rio definido pela Operação Urbana Porto Maravilha, passou por um intenso processo de transformação urbana. Surge o alcance de um “patamar global” feito de modernidade e desenvolvimento (leia-se acesso ao consumo e melhoria dos índices de produção) às custas de outros, que sofrem esquecimento e negação. Analisando o processo de gentrificação como um processo visual capaz de encher a paisagem de significados simbólicos, a abertura do MAR, com os seus muros transparentes que separam o museu da rua, assim como o candor do Museu do Amanhã e da praça que o abriga, torna-se clara a existência de um conflito de classe (e raça) em relação ao pertencimento e à legitimidade na ocupação do território do Porto.
Equipamentos culturais tornaram-se engrenagens necessárias ao funcionamento da “fábrica cultural” do turismo, satisfazendo clássicas estratégias de regeneração urbana. O interesse no desaparecimento de um passado assombroso atende à venda de um produto (a cidade), apresentado como um espetáculo de enorme positividade, indiscutível e intocável (Debord:1992). Baseado no Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana desenhado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, o Circuito Futurístico e Especulativo do Desrespeito da Herança Africana, do Esquecimento Urbano e do Apodrecimento da Sociedade nos levou, a partir da hiper-celebrada Praça Mauá, a outros lugares esquecidos pelas PPP’s: a ex-ocupação Zumbi dos Palmares; o galpão Ação Cidadania; o Jardim do Valongo e o Galpão da Gamboa. Em cada estação os próprios convidados ajudaram no resgate destes esquecimentos. A intenção foi, por um momento, dar visibilidade e visualidade à história e à identidade do local e ao desrespeito que caracteriza o cotidiano das vidas das pessoas. Devido à natureza desrespeitosa da revitalização da cidade do Rio de Janeiro, este modelo poderá ser facilmente reproduzido em outras áreas.
**Debord, G., 1992. A sociedade do Espetáculo, Contraponto Editora.
~ Histórico da Ação ~
No mês de setembro de 2016 o Theatrum Mundi lançou uma chamada publica com o nome de “Designing Respect”, em uma parceria com o People’s Palace Projects e o Museu do Amanhã.
Nós inscrevemos o Circuito Futuristico e Especulativo do Desrespeito da Herança Africana, do Esquecimento Urbano e do Apodrecimento da Sociedade com a intenção de levantar não apenas as questões do Porto mas também as questões deste tipo de projetos e os parceiros envolvidos.
O projeto – obviamente – não foi selecionado. Realizamos então uma caminhada pelo percurso descrito abaixo por onde os convidados seguiram por quase 5 horas, na tarde de um sábado de sol, 8 de Outubro de 2016.
Impressões a laser A3 foram feitas e coladas pelas ruas da região na manhã do dia 8. Nós nos encontramos com os convidados às 15h na frente do Museu de Arte do Rio, o MAR, e passamos pelos seguintes pontos encontrados de seus temas:
- Praça Mauá – Capitalismo do desastre museificado, revitalização e especulação.
- Ex-ocupação Zumbi dos Palmares (Avenida Venezuela) – Moradia e dignidade desapropriadas.
- Galpão Ação e Cidadania – Memória e identidade num museu não-realizado.
- Jardim do Valongo – As Ruínas romanas (1906-2016) e a fabricação de ideais urbanos.
- Galpão da Gamboa – O jogo de empurra dos achados e perdidos históricos e perimetrais.
Estiveram conosco cerca de 30 pessoas, com a orientação em aula pública de Roberto Gomes Santos, ex-morador da Ocupação Quilombo das Guerreiras e representante do Quilombo da Gamboa; Antonio Machado, do Afoxé Filhos de Gandhi e Claudio Honorato, do Instituto dos Pretos Novos (IPN).
Em cada estação tivemos uma longa pausa, abrindo conversas nos temas citados acima, procurando tensionar as questões em que o desrespeito se aplica a partir da fala espontânea de todos os presentes. A nossa caminhada acabou no Bar do Candinho, na Rua Pedro Ernesto 43, nos juntando ao coro #FicaCandinho.